Da Redação
Em jogo pela 5ª rodada do Campeonato Baiano, o Bahia derrotou o Vitória pelo placar de 1x0 e se tornou o novo líder da competição. O primeiro Ba-Vi de 2023 ocorreu na Arena Fonte Nova sem a presença da torcida rubro-negra, devido à recomendação do Ministério Público da Bahia (MP-BA). Dentro de campo, as duas equipes competiram a todo momento pelo resultado positivo e protagonizaram uma boa partida de futebol.
O Bavi é um dos maiores clássicos do mundo. Porém, o espetáculo desse jogo de grande importância no cenário brasileiro é desvalorizado quando há a presença de apenas uma das torcidas no estádio. Desde 2017, o confronto entre as duas equipes não tem a permissão de ser realizada com os torcedores de ambos os times. A proibição veio após a CBF aceitar a recomendação do MP-BA de limitar à torcida única, por causa da morte de um torcedor do Bahia depois de uma confusão. Nesse período, uma única partida foi realizada com as duas torcidas. Esse clássico foi o famoso “Bavi da paz”.
Mesmo com torcida única, os mais de 46 mil torcedores tricolores aproveitaram ao máximo a festa e apoiaram o time até o final. O tricolor de aço vinha de dois resultados negativos e precisava do triunfo para se tornar líder do Baianão. Já no lado do Leão, que na rodada passada conseguiu sair da zona de rebaixamento, a vitória era essencial pela briga contra a parte de baixo da tabela.
No histórico do clássico, foram 492 partidas disputadas. O Bahia soma 192 triunfos, contra 151 Vitórias do Leão, além de 149 empates em toda história do futebol brasileiro.
Apita o árbitro
Ambas equipes foram para jogo com as escalações esperadas. A única surpresa nos 11 iniciais veio pelo Bahia com Cicinho, que estreou somente na última partida contra o Jacobinense, jogando apenas 60 minutos. Até então, Douglas Borel era o dono da lateral direita do esquadrão. Mas a presença de Cicinho no time titular foi um acerto de Paiva, pois o lateral naturalizado búlgaro foi importante na saída e construção do jogo pelo lado direito, também conseguindo frear bem as investidas ofensivas do Vitória pela esquerda.
O Leão da Barra foi a campo com a mesma equipe que derrotou o Doce Mel na rodada passada, mas a disposição dos jogadores em campo foi diferente. Dessa vez, a equipe rubro-negra começou o jogo em um 5-4-1, com Léo Gomes afundando entre os zagueiros para formar a linha de 5 e Rafinha e Osvaldo fechando a segunda linha de marcação pelos lados.
Essa forma de jogar não é nenhuma novidade para os comandados de Burse. O treinador frequentemente usa esse esquema tático, mas apenas quando o Leão tem vantagem no marcador, na reta final de jogos. Normalmente, o Vitória começa os jogos no 4-3-3, com Léo Gomes sendo o primeiro volante e Rafinha e Osvaldo mais avançados no campo.
Decorrente da mudança tática, o Vitória começou o jogo marcando em uma linha baixa, ao contrário do que normalmente faz que é pressionar a saída de bola adversária. Isso também gerou mudanças na saída de bola do Bahia, geralmente feita com uma linha de 3 e formada sempre pelos dois zagueiros mais um dos volantes ou um dos laterais. A construção passou a ser feita apenas com a dupla de zaga, Kanu e Raul Gustavo, já que o Vitória abdicou de marcar alto no campo.
Diferente do rival, o Tricolor marcava a saída de bola adversária desde o tiro de meta. Com isso, o Leão não tinha sucesso quando tentava sair jogando em um 3-4-3. Com a posse recuperada, o Esquadrão buscava explorar a velocidade dos seus pontas, que atacavam as costas da última linha de defesa do Vitória o tempo todo. Tanto que assim surge o único gol da partida, com Kayky atacando as costas da última linha defensiva do Vitória pelo lado esquerdo.
Depois do gol, a equipe leonina subiu suas linhas e passou a marcar pressão. Forçando alguns erros na saída de bola do Bahia, conseguiu criar duas boas oportunidades, uma com Rafinha e outra com Trellez. Quando conseguia sair da pressão e cruzar a linha central, o Vitória criava sempre pelo lado direito com Osvaldo e Zeca. Pouco conseguia fazer pelo centro e pela esquerda.
Rafinha, além de isolado pela falta de apoio de João Lucas, fez uma partida muito abaixo. No meio, faltava criatividade para Rodrigo Andrade e Gegê e também havia o fato do Bahia sempre estar em superioridade numérica na faixa central do gramado.
O Vitória voltou para a segunda etapa marcando muito avançado, porém deixava um latifúndio entre as linhas, algo que o Bahia soube aproveitar muito bem. Para reforçar a saída de bola, Paiva recuou Acevedo, que junto com a dupla de zaga faziam a saída de jogo do Tricolor. Os três conseguiam achar sem muitas dificuldades nas costas da primeira linha de marcação formada quase sempre por todos que jogam do meio para frente do Rubro-negro, Cicinho, Resende e Daniel.
O Bahia aproveitava as linhas espaçadas do Vitória e saiu jogando e, uma espécie de 3-3-4, com Kayky pela direita, Goulart centralizado, Biel e Chávez alternando quem ficava espetado pela esquerda, compondo a linha mais ofensiva. Assim, conseguiu criar várias chances no começo da segunda etapa, principalmente a partir de cruzamentos rasteiros e atacando a última linha de defesa.
A partir dos 20 minutos da segunda etapa, o jogo entrou em um marasmo. O Bahia adotou uma postura mais conservadora, além do Vitória ter compactado suas linhas, o que dificultou a criação ofensiva do Esquadrão. O Vitória passou a ter mais posse de bola, mas não levava perigo algum ao gol de Marcos Felipe. Não conseguia achar espaços pelos meio, que era tangenciando pela boa defesa do Bahia a atacar pelas pontas, onde não conseguia criar espaço para fazer cruzamentos, nem criar situações de mano a mano devido às boas dobras de marcação feitas pela defesa tricolor.
Mesmo com Léo Gomes avançando e voltando a jogar como volante, dando mais liberdade aos outros meio campistas e todas as substituições feitas por Burse, o time seguiu inofensivo. O Bahia só administrava a vantagem, fechava totalmente os espaços na entrada da sua área, fazia faltas táticas para quebrar o ritmo do jogo e saía ao ataque com menos jogadores, Chávez já não subia mais, mas sempre visando atacar as costas da última linha.
Faz a festa, Esquadrão!
Vindo de duas derrotas seguidas, os torcedores começaram a pressionar a equipe de Renato Paiva, pois clássico, é clássico. Então, para provocar os adversários e motivar o Bahia, a torcida organizou um mosaico escrito "Não Fujam", em referência ao ocorrido no fatídico "BaVi da Paz" em 2018, onde o Vitória se retirou do jogo após 5 titulares expulsos.
Os "adeptos", como diria Paiva, fizeram a festa, compareceram em peso na Arena Fonte Nova, fazendo uma belíssima festa e motivando o Esquadrão durante os dois tempos. Apoio esse que foi enaltecido pelo técnico do tricolor, "A torcida ganha jogo, é de fato verdade".
No campo, o time sabia que tinha de vencer, buscando desde o início o gol por meio de lançamentos, a maioria não dava certo, parando nas mãos de Dalton ou nos pés da defesa rubro-negra. Até que Acevedo levanta uma bela bola, Kayky corre entre dois marcadores, domina, dribla o goleiro e de canhota marca um Senhor golaço. Gol de um dos jogadores mais queridos nesse início de ano, gol de um jogador incrivelmente talentoso, um a zero.
O time continuou na luta, buscando resolver logo no primeiro tempo, um chute de Rezende e bons cruzamentos de Biel para Kayky e Goulart mostravam a vontade e intensidade do maior campeão estadual. Mesmo que no segundo tempo o jogo tenha ficado mais truncado, não faltou raça, todas as bolas eram tratadas como decisivas. Ganhou a equipe que teve e mostrou vontade durante os noventa minutos, já que "Ninguém nos vence em vibração".
O torcedor tricolor saiu do estádio satisfeito, fez festa, provocou e ganhou. Agora, é hora de manter a empolgação, buscar a classificação e trazer o 50° título baiano para o Museu do Bahia, na Itaipava Arena Fonte Nova.
Dor de cabeça de Leão
Ai ai, meu Vitória. Só Deus sabe o tanto que lhe pedi para ganhar esse jogo. Clássico é sempre uma partida diferente, por isso eu sabia que a nossa fase não importava, já que era dentro de campo que as coisas iriam se resolver. Não acho que faltou luta, mas repetimos os mesmos erros do passado, a tal da qualidade técnica.
O Leão teve uma proposta mais defensiva nos primeiros minutos de bola rolando. Com o time mais recuado, além de marcar bem o meio de campo do time do Bahia. Mesmo começando tímido foi se soltando ao decorrer da partida, mas sem grandes chances de gols e falhando em algumas trocas de passes.
Nas vezes em que atacou o Leão não teve muito perigo, mas conseguiu criar duas boas oportunidades. Primeiramente com o Rafinha desperdiçando uma bola na cara do gol, Trellez por sua vez com boas chances de gols. O ataque do Vitória não está sendo tão promissor como a torcida espera e precisa ser mais agressivo e melhorar os passes para, assim, se manter firme sonhando com a classificação.
No fim, é verdade que a derrota dói, nunca deve ser considerado normal perder para o maior rival, mas é desse revés que iremos entender os nossos erros para voltarmos mais fortes. Não há crise, torcedores. Nosso leão voltará mais forte do que nunca e nós devemos fazer parte dessa retomada ao nível mais alto, exatamente como diz nosso hino. “O teu pavilhão nós vamos erguer, seremos Vitória até morrer”.
Pós Jogo
Após o jogo, o técnico Renato Paiva fez questão de exaltar os torcedores. “Torcida que ganha jogo é de fato verdade. Eu já tinha sentido no último jogo em casa. A torcida ganha jogos e ajuda”, disse o comandante do Bahia. Sobre o jogo, o português saiu satisfeito com o desempenho de sua equipe. “Eu acho que a equipe, no coletivo, está muito bem em questões ofensivas e defensivas. Hoje nos faltou o último passe, mas para o tempo de trabalho que nós temos, estou muito satisfeito”, declarou.
Durante a coletiva de imprensa, o técnico João Burse lamentou a derrota. “A gente já se cobrou bastante no vestiário. Sabíamos que seria um jogo de detalhes e tivemos as oportunidades, mas acabamos não aproveitando”, disse. Mas apesar do resultado negativo, Burse parabenizou a equipe pelo comportamento em campo. “A gente pode estar em um dia ruim tecnicamente, mas não pode parar de duelar e hoje eles fizeram isso. Foi o meu principal elogio dentro do vestiário”, revelou o comandante rubro negro.
O resultado positivo deixou o tricolor de aço na liderança da competição, enquanto a derrota complicou ainda mais a situação dos rubro negros, que podem cair para a penúltima posição. Na próxima rodada, o Bahia enfrentará a equipe do Barcelona de Ilhéus às 21:30 de quarta-feira (1) no Estádio Mário Pessoa. Já o Vitória volta a campo na quinta-feira (2), às 19:15, para enfrentar o Jacobinense no Barradão.
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